domingo, 4 de abril de 2010

Carregados a Sul

Finais dos anos 80, inicio dos 90. A classe trabalhadora portuguesa, melhora a suas condições de vida. Fartos dos passeios dos tristes, esta foi a altura em que mais conheci Portugal, sem ser por iniciativa própria. Afinal, só tirei a carta em 93e comprei o primeiro carro no século seguinte. Quando for rico, vou procura-lo.

 Nesta altura fartei-me de fazer viagens Lisboa - Algarve - Lisboa. Sem uma estrada de jeito (não me refiro à auto-estrada, até porque continuo a pouco utilizar), as viagens para a praia, debaixo de calor elevado, eram um autêntico suplício. Havia quilómetros e quilómetros de filas, eram horas perdidas para chegar lá abaixo. Mas, felizmente também havia a parte boa, aquela em que se jogava à bola, com outros desconhecidos companheiros de viagem, em zonas mais espaçosas, normalmente pequenos troços de estrada com pontes estreitas há alguns tempos postos de lado.

 Era engraçado, igualmente, quando parávamos junto desses rios a maior parte das vezes, quase secos, apenas para recolher um pouco de água para enchermos a banheira do Naneco que se encontrava dentro da gaiola, local onde o periquito se torcia ao ar abafado e sem ac da carrinha. Aquilo é que era uma alegria vê-lo a refrescar-se, com penas a voar em todas as direcções. Era o meu "tochinha", "bicho lindo" e "manda-chuva", palavras que aprendeu com a gaiola pendurava numa árvore, algures num parque de campismo em solo algarvio, enquanto fomos a Huelva trocar umas pesetas por caramelos.

 Deve ter sido aí que aprendi a gostar de andar de carro. Aquelas travessias das serras do Caldeirão e Espinhaço de Cão, cheias de curvas, tornando o Algarve num local de difícil e demorado acesso, eram ao mesmo tempo uma seca, mas também uma oportunidade após cada curva, normalmente havia algo sempre novo e desconhecido. Foi assim, que aprendi a gostar do nosso Algarve e Alentejo anterior. Seria interessante saber a ínfima percentagem de crianças que teve a oportunidade de conhecer essas terras e lugares remotos e cheios de magia.

 E chegados lá, ao destino havia sempre algumas horas ou dias de espera à porta do parque de campismo por um lugar para montar um tenda, grande com dois sacos de batatas cheios de ferros complexamente emaranhados, ligados por um elástico, que quando se percebia qual o fio da meada, permitia encaixar todos aqueles ferros e transformar tudo numa óptima casa de quinzena. Eram bons aqueles parques de Monte Gordo e sobretudo a Praia Verde (que desperdício nos dias que correm).


 Recordo com saudades o cinema ao ar livre, junto ao parque de campismo da Praia Verde ou mesmo as dezenas de camaleões que andavam no seu interior, a venda de bolas de berlim junto à vedação de Monte Gordo, onde se era atraído por um "Boli-Boli" e as longas esperas para atravessar o Guardiana de barco para se comer uns caramelos do outro lado.

 Bons e velhos tempos, mesmo sendo criança na altura.

1 comentário:

  1. Como eu percebo essas saudes de que fala.
    Sinto tanta falta das minhas férias de 3 meses no parque de campismo da praia verde, do cinema ao ar livre dos gelados na esplanada....
    Tudo acaba!

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