Foi há pouco mais de 20 anos. Desde então ainda lá não voltei. Já esteve perto, mas a pele de umas cadeiras fez-me demorar algum demasiado tempo em Paços de Ferreira e assim, não sobraram dias para lá voltar.
Deve ter sido algures nos finais dos anos 80, inícios dos anos 90 que fui pela primeira e última vez a Santiago de Compostela e La Corunha. Já não recordo muito bem de toda a viagem, mas tenho pequenos lapsos de recordações que me lembram momentos saudosos. Tenho ideia que fui a essa zona duas vezes em pouco tempo. Numa vez apenas com os meus pais e noutra com os meus avós.
Lembro-me de estar em Vigo. De parar junto do porto de pesca. Estive lá recentemente mas ja não consegui identificar quase nada, afinal duas décadas mudam muita coisa.
Recordo de visitar a Catedral de Santiago de Compostela, onde uma bruxa pregou um grande susto ao meu irmão. No entanto, penso que ele ainda não tinha nascido na primeira vez, pelo que isso deve ter sido da segunda vez. Recordo-me de estar numa longa fila dentro da catedral porque toda a gente queria beijar algo, já bastante sujo de tanta saliva acumulada.
Recordo-me de numa dessas viagens estar algures junto da fronteira a almoçar, numa mesa de campismo, enquanto o meu irmão brincava com um qualquer novo brinquedo e no rádio dizia que o Chiado estava a arder. Estávamos em Agosto de 1988, senão me engano. Tendo nesse dia, regressado à Sertã pela estrada de Penela (ainda não havia IC8). Recordo-me de estar parado, junto a um pinhal com tudo a arder, onde alguém calmamente fazia as suas necessidades pesadas no meio da estrada, porque no mato tudo queimava.
No entanto, recordo-me de no outro passeio, regressar por Ourense que tinha uma descida acentuada sobre a cidade, com inúmeras placas a aconselhar a travagem com o motor. Lembro-me de entrar em Portugal por Chaves e da infinita e dolorosa estrada de Vinhais para Bragança. Recordo-me de chegar muito tarde e ter de dormir dentro do carro, junto da estação de comboios e do posto da policia.
Mais recordações de bons e velhos tempos que me fazem de gostar muito de andar na estrada, de um lado para outro a conhecer novos mundos, novas culturas.
domingo, 4 de abril de 2010
Carregados a Sul
Finais dos anos 80, inicio dos 90. A classe trabalhadora portuguesa, melhora a suas condições de vida. Fartos dos passeios dos tristes, esta foi a altura em que mais conheci Portugal, sem ser por iniciativa própria. Afinal, só tirei a carta em 93e comprei o primeiro carro no século seguinte. Quando for rico, vou procura-lo.
Nesta altura fartei-me de fazer viagens Lisboa - Algarve - Lisboa. Sem uma estrada de jeito (não me refiro à auto-estrada, até porque continuo a pouco utilizar), as viagens para a praia, debaixo de calor elevado, eram um autêntico suplício. Havia quilómetros e quilómetros de filas, eram horas perdidas para chegar lá abaixo. Mas, felizmente também havia a parte boa, aquela em que se jogava à bola, com outros desconhecidos companheiros de viagem, em zonas mais espaçosas, normalmente pequenos troços de estrada com pontes estreitas há alguns tempos postos de lado.
Era engraçado, igualmente, quando parávamos junto desses rios a maior parte das vezes, quase secos, apenas para recolher um pouco de água para enchermos a banheira do Naneco que se encontrava dentro da gaiola, local onde o periquito se torcia ao ar abafado e sem ac da carrinha. Aquilo é que era uma alegria vê-lo a refrescar-se, com penas a voar em todas as direcções. Era o meu "tochinha", "bicho lindo" e "manda-chuva", palavras que aprendeu com a gaiola pendurava numa árvore, algures num parque de campismo em solo algarvio, enquanto fomos a Huelva trocar umas pesetas por caramelos.
Deve ter sido aí que aprendi a gostar de andar de carro. Aquelas travessias das serras do Caldeirão e Espinhaço de Cão, cheias de curvas, tornando o Algarve num local de difícil e demorado acesso, eram ao mesmo tempo uma seca, mas também uma oportunidade após cada curva, normalmente havia algo sempre novo e desconhecido. Foi assim, que aprendi a gostar do nosso Algarve e Alentejo anterior. Seria interessante saber a ínfima percentagem de crianças que teve a oportunidade de conhecer essas terras e lugares remotos e cheios de magia.
E chegados lá, ao destino havia sempre algumas horas ou dias de espera à porta do parque de campismo por um lugar para montar um tenda, grande com dois sacos de batatas cheios de ferros complexamente emaranhados, ligados por um elástico, que quando se percebia qual o fio da meada, permitia encaixar todos aqueles ferros e transformar tudo numa óptima casa de quinzena. Eram bons aqueles parques de Monte Gordo e sobretudo a Praia Verde (que desperdício nos dias que correm).
Recordo com saudades o cinema ao ar livre, junto ao parque de campismo da Praia Verde ou mesmo as dezenas de camaleões que andavam no seu interior, a venda de bolas de berlim junto à vedação de Monte Gordo, onde se era atraído por um "Boli-Boli" e as longas esperas para atravessar o Guardiana de barco para se comer uns caramelos do outro lado.
Bons e velhos tempos, mesmo sendo criança na altura.
Nesta altura fartei-me de fazer viagens Lisboa - Algarve - Lisboa. Sem uma estrada de jeito (não me refiro à auto-estrada, até porque continuo a pouco utilizar), as viagens para a praia, debaixo de calor elevado, eram um autêntico suplício. Havia quilómetros e quilómetros de filas, eram horas perdidas para chegar lá abaixo. Mas, felizmente também havia a parte boa, aquela em que se jogava à bola, com outros desconhecidos companheiros de viagem, em zonas mais espaçosas, normalmente pequenos troços de estrada com pontes estreitas há alguns tempos postos de lado.
Era engraçado, igualmente, quando parávamos junto desses rios a maior parte das vezes, quase secos, apenas para recolher um pouco de água para enchermos a banheira do Naneco que se encontrava dentro da gaiola, local onde o periquito se torcia ao ar abafado e sem ac da carrinha. Aquilo é que era uma alegria vê-lo a refrescar-se, com penas a voar em todas as direcções. Era o meu "tochinha", "bicho lindo" e "manda-chuva", palavras que aprendeu com a gaiola pendurava numa árvore, algures num parque de campismo em solo algarvio, enquanto fomos a Huelva trocar umas pesetas por caramelos.
Deve ter sido aí que aprendi a gostar de andar de carro. Aquelas travessias das serras do Caldeirão e Espinhaço de Cão, cheias de curvas, tornando o Algarve num local de difícil e demorado acesso, eram ao mesmo tempo uma seca, mas também uma oportunidade após cada curva, normalmente havia algo sempre novo e desconhecido. Foi assim, que aprendi a gostar do nosso Algarve e Alentejo anterior. Seria interessante saber a ínfima percentagem de crianças que teve a oportunidade de conhecer essas terras e lugares remotos e cheios de magia.
E chegados lá, ao destino havia sempre algumas horas ou dias de espera à porta do parque de campismo por um lugar para montar um tenda, grande com dois sacos de batatas cheios de ferros complexamente emaranhados, ligados por um elástico, que quando se percebia qual o fio da meada, permitia encaixar todos aqueles ferros e transformar tudo numa óptima casa de quinzena. Eram bons aqueles parques de Monte Gordo e sobretudo a Praia Verde (que desperdício nos dias que correm).
Recordo com saudades o cinema ao ar livre, junto ao parque de campismo da Praia Verde ou mesmo as dezenas de camaleões que andavam no seu interior, a venda de bolas de berlim junto à vedação de Monte Gordo, onde se era atraído por um "Boli-Boli" e as longas esperas para atravessar o Guardiana de barco para se comer uns caramelos do outro lado.
Bons e velhos tempos, mesmo sendo criança na altura.
O Passeio dos Tristes
Estávamos em plenos anos 70 e 80. O dinheiro não abundava na mão da classe trabalhadora portuguesa. Mas ainda assim e porque o bichinho de não estar quieto muito tempo no sofá, metia-nos aos três dentro do carro praticamente todos os fins-de-semana. Embora isso não quisesse dizer que todos os fins-de-semana houvesse novidades em termos de panorama.
Assim, sempre que saímos, o normal era decidir qual o destino até ao cruzamento à saída do bairro. Como todos os destinos falados naqueles 150 metros até lá, eram sempre um pouco distantes para a "hora". Lá íamos nós mais uma vez fazer o passeio dos tristes. Era assim que se denominava porque era sempre para os mesmos locais e parando quase sempre nos mesmos locais.
Na altura atravessar o rio, resumia-se a Vila Franca de Xira e à ponte Salazar. Daí, ou íamos por Vila Franca e voltávamos por Lisboa ou vice-versa. Embora o vice-versa tivesse mais adeptos porque permitia ir ao outro lado sem pagar portagem. Outras vezes íamos até Sintra e voltávamos pela marginal, embora fossemos mais adeptos do sentido inverso, porque quase toda a gente voltava à mesma hora, pela mesma estrada, tornando os passeios em monumentais secas de pára-arranca.
Posteriormente, talvez já um pouco cansados dos mesmos sítios ou porque um novo emprego proporcionava mais alguns rendimentos, resolvemos inovar e alargamos a volta dos tristes a Santarém, ver as cheias ou à Arrábida ver o mar ou encher os pulmões de ar fresco e puro.
E quando daí ficamos fartos, o passo seguinte era sair de casa para tomar o pequeno-almoço e acabar por ir almoçar a uma churrasqueira muito boa que havia (e ainda há) em Odiáxere, Lagos.
Bons velhos tempos. Ainda consigo lembrar-me de muitas das fotos que estão lá para casa algures, dentro de uma caixa de sapatos. Infelizmente (felizmente, pelo preço) hoje em dia, já não podemos encontrar fotos de momentos marcantes dentro de uma caixa de sapatos.
PS. Acho que vou passar a guardar os CD's de backup das fotos dentro de uma caixa de sapatos na arrecadação.
Assim, sempre que saímos, o normal era decidir qual o destino até ao cruzamento à saída do bairro. Como todos os destinos falados naqueles 150 metros até lá, eram sempre um pouco distantes para a "hora". Lá íamos nós mais uma vez fazer o passeio dos tristes. Era assim que se denominava porque era sempre para os mesmos locais e parando quase sempre nos mesmos locais.
Na altura atravessar o rio, resumia-se a Vila Franca de Xira e à ponte Salazar. Daí, ou íamos por Vila Franca e voltávamos por Lisboa ou vice-versa. Embora o vice-versa tivesse mais adeptos porque permitia ir ao outro lado sem pagar portagem. Outras vezes íamos até Sintra e voltávamos pela marginal, embora fossemos mais adeptos do sentido inverso, porque quase toda a gente voltava à mesma hora, pela mesma estrada, tornando os passeios em monumentais secas de pára-arranca.
Posteriormente, talvez já um pouco cansados dos mesmos sítios ou porque um novo emprego proporcionava mais alguns rendimentos, resolvemos inovar e alargamos a volta dos tristes a Santarém, ver as cheias ou à Arrábida ver o mar ou encher os pulmões de ar fresco e puro.
E quando daí ficamos fartos, o passo seguinte era sair de casa para tomar o pequeno-almoço e acabar por ir almoçar a uma churrasqueira muito boa que havia (e ainda há) em Odiáxere, Lagos.
Bons velhos tempos. Ainda consigo lembrar-me de muitas das fotos que estão lá para casa algures, dentro de uma caixa de sapatos. Infelizmente (felizmente, pelo preço) hoje em dia, já não podemos encontrar fotos de momentos marcantes dentro de uma caixa de sapatos.
PS. Acho que vou passar a guardar os CD's de backup das fotos dentro de uma caixa de sapatos na arrecadação.
Portugal do Pequenino
Portugal. Foi neste país à beira mar plantado que descobri dois prazeres fundamentais para o meu ser: andar a pé e viajar.
Felizmente, sempre tive uma infância viajada, apenas por Portugal é verdade, mas muito viajada. Desde pequeno que os meus pais aproveitavam a maioria dos tempos livres para conhecer Portugal e ao mesmo tempo que o meu corpo crescia, cresciam os meus conhecimentos acerca deste país.
E foi vivendo na aldeia, até entrar para a escola onde os transportes públicos eram raros ou inexistentes o que permitia que cada vez que se quisesse ir a uma civilização mais elaborada fosse necessário andar uns míseros doze quilómetros para cada lado. Mas era um percurso engraçado, pois nunca íamos pela estrada. A minha avó sempre escolhia um ou outro caminho pelo meio das hortas, parcas casas ou pinhais. Assim, sempre dava para distrair e ir conhecendo mais umas pessoas, de idade avançada é verdade, mas sempre pessoas interessantes cheias de sabedoria.
Depois vinham os Verões escolares, onde o destino da aldeia era sempre muito apreciado. Nessa altura não havia tv por cabo, consolas e outras modernices. Ainda bem, digo com orgulho. Ir à horta, às vezes percorrendo quilómetros pelo meio do pinhal, com o balde e a sachola (enxada mais pequena). Passar o dia inteiro a ver o meu avô tirar água do poço com um engenho cujo nome, por hora, se varreu. Era composto por um eucalipto que tinha numa ponta pedras atadas e na outra se pendurava o balde. Preso sobre um poste, puxava-se a corda até o balde ficar submerso, deixando-se depois as pedras fazerem contra-peso e trazer o balde de volta à superficie. O balde vinha cheio e a água era descarregada para uma calha, de onde seguia até um complexo emaranhado de regos, por entre pés de milho, que eram trabalhados pela avó com chachola, desviando a água para o rego seguinte assim que aquela área estivesse cheia. E ali passavamos o dia, até todo o terreno estar regado ou o poço sem água. Pelo meio, comiamos uns pêros acabadinhos de apanhar, uns pedaços de broa com nacos de presunto e uma boa água-pé. Eram dias recheadamente bem passados.
Depois veio a bicicleta que já permitia percorrer aqueles e outros caminhos com mais rapidez, ainda que às vezes com mais dificuldade dada a inclinação dos traços. Que saudades daqueles tempos em que o concelho da Sertã era um local seguro e calmo de habitar.
E foi aqui que o bicho começou a mexer, o bicho das caminhadas e do conhecimento de novos e desconhecidas culturas. Este é um tema que gostaria e muito de alongar. E aos poucos haverei de efectuá-lo...
Felizmente, sempre tive uma infância viajada, apenas por Portugal é verdade, mas muito viajada. Desde pequeno que os meus pais aproveitavam a maioria dos tempos livres para conhecer Portugal e ao mesmo tempo que o meu corpo crescia, cresciam os meus conhecimentos acerca deste país.
E foi vivendo na aldeia, até entrar para a escola onde os transportes públicos eram raros ou inexistentes o que permitia que cada vez que se quisesse ir a uma civilização mais elaborada fosse necessário andar uns míseros doze quilómetros para cada lado. Mas era um percurso engraçado, pois nunca íamos pela estrada. A minha avó sempre escolhia um ou outro caminho pelo meio das hortas, parcas casas ou pinhais. Assim, sempre dava para distrair e ir conhecendo mais umas pessoas, de idade avançada é verdade, mas sempre pessoas interessantes cheias de sabedoria.
Depois vinham os Verões escolares, onde o destino da aldeia era sempre muito apreciado. Nessa altura não havia tv por cabo, consolas e outras modernices. Ainda bem, digo com orgulho. Ir à horta, às vezes percorrendo quilómetros pelo meio do pinhal, com o balde e a sachola (enxada mais pequena). Passar o dia inteiro a ver o meu avô tirar água do poço com um engenho cujo nome, por hora, se varreu. Era composto por um eucalipto que tinha numa ponta pedras atadas e na outra se pendurava o balde. Preso sobre um poste, puxava-se a corda até o balde ficar submerso, deixando-se depois as pedras fazerem contra-peso e trazer o balde de volta à superficie. O balde vinha cheio e a água era descarregada para uma calha, de onde seguia até um complexo emaranhado de regos, por entre pés de milho, que eram trabalhados pela avó com chachola, desviando a água para o rego seguinte assim que aquela área estivesse cheia. E ali passavamos o dia, até todo o terreno estar regado ou o poço sem água. Pelo meio, comiamos uns pêros acabadinhos de apanhar, uns pedaços de broa com nacos de presunto e uma boa água-pé. Eram dias recheadamente bem passados.
Depois veio a bicicleta que já permitia percorrer aqueles e outros caminhos com mais rapidez, ainda que às vezes com mais dificuldade dada a inclinação dos traços. Que saudades daqueles tempos em que o concelho da Sertã era um local seguro e calmo de habitar.
E foi aqui que o bicho começou a mexer, o bicho das caminhadas e do conhecimento de novos e desconhecidas culturas. Este é um tema que gostaria e muito de alongar. E aos poucos haverei de efectuá-lo...
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